O ser humano é o único ser vivo que conheço que consegue ser ao mesmo
tempo racional e extremamente irracional (chegando à atitudes
animalescas) em outras situações. Ele é capaz de dominar as mais altas
tecnologias e ciências, mas incapaz, muitas vezes, de lidar com
frustrações. Prefere a facilidade e despreza o esforço. Parece ser
preparada quando o assunto é a modernidade (e tudo o que advém dela),
mas desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre,
sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio
da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma
espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para
garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para
dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar
nenhuma responsabilização nem reciprocidade. Estudam em bons colégios,
viajam para o exterior, tem acesso à cultura e à tecnologia. Um geração
que tem muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a
ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas
que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Acho que os jovens esperam do mundo uma continuação das suas casas, onde
tudo pode e tudo consegue .E quando isso não acontece – porque
obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a
“injustiça”. Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e
adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de
relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um
espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a
cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o
mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para
os insistentes. Da mesma forma que supostamente seria possível construir
um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é
possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma
anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao
futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela
crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso.
Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer
– este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha,
começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde
sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para
lidar com a tristeza e a frustração. . E acreditar que se pode tudo é o
atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela
que paralisa.
Um abraço
by Larissa reis Costa
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